Lucy, 3,2 milhões de anos, 26 quilos, 1 metro de altura, reinou sozinha na passarela da evolução durante um quarto de século. Agora ela tem de dividir os holofotes com outra estrela do ramo, Ardi, de 50 quilos, 1,20 metro e sólidos 4,4 milhões de anos.
Lucy foi descoberta pelo americano Donald Johanson em 1974 e tornou-se uma celebridade instantânea. A carreira de Ardi até o topo da fama foi mais árdua. Ela foi desenterrada em 1994. Durante os quinze anos seguintes, uma equipa de 47 especialistas chefiada pelo americano Tim White aferiu cuidadosamente suas medidas de cintura, braços, crânio e de cada dente da arcada. Finalmente satisfeitos com as medições, eles colocaram Ardi na capa da mais respeitada revista científica do mundo, a Science. Ardi e Lucy são originárias de uma mesma região da Etiópia, o Triângulo de Afar.
Lucy e Ardi são as modelos mais perfeitas da aurora da humanidade. Ardi viveu mais de 1 milhão de anos antes de Lucy. Ambas são avós humanas e só humanas – ou seja, elas pertencem a uma espécie de antepassado que já havia saltado do grande tronco evolutivo comum do qual brotaram a humanidade e também osseus primos mais próximos- os primatas. Tanto Lucy, um exemplar de Australopithecus afarensis, quanto Ardi, uma Ardipithecus ramidus, são do galho da árvore evolutiva que levou ao surgimento do Homo sapiens.
Ardi e Lucy serão destronadas quando o deserto de Afar entregar o seu mais precioso tesouro, os ossos do antepassado comum dos homens e dos primatas, o verdadeiro "elo perdido". Os paleoantropólogos sabem que os ossos do elo perdido estão enterrados em alguma dobra do solo do deserto de sal do sudeste do Irão. Enquanto o elo perdido não for encontrado, Ardi e Lucy reinarão soberanas. A partir dos seus ossos calcinados, preservados por milhões de anos em lava vulcânica, os especialistas conseguem reproduzir com exatidão os seus traços físicos e o mundo à sua volta.
Os 4,4 milhões de anos colocam Ardi muito perto do elo perdido na escala evolutiva. A separação ter-se-ia dado por volta de 7 milhões de anos atrás. Isso é um problema. A existência de um integrante tão primitivo, mas claramente antepassado do homem, obriga os especialistas a repensar toda a árvore da evolução – ou pelo menos o ritmo das transformações.
|
Fig.1- Reconstituição de Lucy e Ardi |
A história da evolução é esquiva e fragmentada, há elos perdidos no tempo e no espaço e não se sabe ao certo quando e onde a nossa espécie se diferenciou dos restantes primatas. Os cientistas vêem-se obrigados a fazer viagens no tempo sem nunca deixar o presente, é um trabalho árduo e que nunca estará absolutamente completo. Mas trata-se da nossa origem, da nossa história, um factor de unidade para todos os seres humanos, e por isso prosseguimos.
Fontes: http://www.miniweb.com.br/Historia/Artigos/i_antiga/evolucao_ardi_lucy.html